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Percebi que de uns anos pra cá gradativamente a bíblia tem saído das igrejas, Jesus aos poucos tem sido trocado por outro senhor e por outro evangelho, líderes e "apóstolos" são mais importantes que o próprio Senhor da Cruz. A geração de agora está bem mais com cara de geração coca-cola gospel, do que aquela cantada na década de noventa. Os crentes atuais formados nessa nova "forma de ser igreja", onde o oba-oba e motivação de multiplicação anti-biblica é o fator primordial, são mais rasos e sem fundamento, vulnerável a qualquer vento de doutrina e a falsos líderes, tornando o evangelho ainda mais vergonhoso aos olhos de muitos.
O que percebo e acredito é que nessa minha caminhada cristã Deus tem levantado os remanescentes daquela época, crentes onde o coração está fundamentado na fiel palavra, com o coração voltado para o Senhor do Evangelho e para a Cruz para resgatar e servir de voz profética para a igreja atual e para aqueles que se frustraram com o rumo que a igreja cristã tem tomado. Crentes que se necessário morrerão mas não se renderão aos falsos discursos e palavras persuasivas e que acreditam, diferente do que se tem pregado, numa idéia capitalista de contrução de palácios e mega-templos, que uma alma vale mais do que o mundo inteiro.
Que o nosso desafio seja o de resgatar o evangelho genuíno e verdadeiro, ser sal e luz para aqueles que precisam da iluminação do Evangelho em suas vidas e acima de tudo levar as palavras do Messias e vivê-la sem se contaminar com as iguarias que tem sido posta dentro de nossas igrejas »
Cada missionário tem em si características de identidade que reconheceu em Jesus e fez suas, além daquelas que recebeu da família, e outras.
Todos gostaríamos de ser profetas e transmitir com clareza a mensagem que Deus quer que os homens escutem, e de ser espirituais transportados pelo amor e pela intimidade com Deus e com as nossas gentes, tanto em tempos de bonança como como em momentos de tempestade.
Necessitamos de profetas com grande visão, com a visão de Deus, que nos motivem e nos proponham caminhos de mudança e conversão, não só para pessoas comuns mas também para as instituições e os estados. Quando o povo de Israel está em crise os profetas descobrem os sinais e gestos do seu Deus que não se resigna ao fracasso do Seu povo.
A igreja e todos nós temos de assumir esta missão com a palavra e o testemunho de vida, colaborando com homens de boa vontade para tirar o mundo do atoleiro em que ele se encontra.
Marion de Brésillac dizia que « sabemos que a caridade de Deus é uma fonte inesgotável » e essa certeza é o fundamento da nossa perseverança.
Duas caixas de fruta voltadas ao contrário encostadas ao muro. Abdulai sentado a um canto dum desses caixotes, a nosso pedido, dá-nos lugar ao seu lado. Veste-se dum comprido e gasto bubu claro de onde ressaltam as riscas negras, verticais. Um boné branco, também ele ruço pelo tempo, característico do muçulmano, cobre-lhe o cabelo escasso. Talvez resultado de algum ataque mais ou menos recente tem a boca um pouco ao lado. Tem olhos sombrios, diria mesmo apagados. O francês sai-lhe perturbado pela língua mãe e também por aquela deficiência. Entre as mãos passeia-lhe uma velha caixa de comprimidos que ele vai abrindo de tempos a tempos e de onde tira as moedas para fazer o troco dos baldes de água que os habitantes do bairro vêm comprar. É um homem de diálogo. E porque o diálogo faz parte do caminho que percorremos ele vai desfiando os seus pensamentos, evocando o livro santo dos muçulmanos. Eu ouço-o com a máxima atenção. Allah é a razão primeira do muçulmano. Sabe-se num mundo criado por Deus e que vai terminar por se encontrar diante d'Ele para o julgamento final. Falamos da criação e do modo fantástico como Deus tudo criou e como tudo sustém. Ouço-o com gosto enquanto vai desfiando a vida. Fala-se do paraíso e eu baixo-me para desenhar um pequeno círculo com uma abertura. Vai-me seguindo enquanto vou rasquinhando o “paraíso” e depois chegamos ambos à triste realidade que para entrar ali é necessário deixar todos os pecados de fora. Acabamos por concluir que por nós mesmos é impossível.
retidos