Chegamos ao bairro por volta das dez da manhã. O bairro é constituido dum amaranhado de caminhos em terra batida e dum amaranhado de barracas todas elas em péssimo estado. Mas aqui o que nos interessa são as pessoas e em especial os pobres...À porta de todas estas barracas encontramos sempre gente e bancos. Gente porque não há trabalho e bancos porque esperam sempre mais alguém com quem compartilhar o pouco que têm para manducar ou para se entreterem numa cavaqueira de esquecimento.
Nós, quando a vida não nos sorri, lamentamo-nos, dizemos mal dela e vivemos num constante desespero. Os africanos não choram, só riem, e é neste riso constante que afogam as suas mágoas.
Estão-nos sempre esperando aqui. Quando não vimos lamentam-se, reclamam-nos. É neste exiguo espaço confinado entre duas filas paralelas de barracas, que se alinham ao correr das “casas” os bancos e as cadeiras ou o que resta delas. Trocamos algumas, muitas, palavras de saudação e deslizamos tranquilamente rumo a um diálogo ameno sobre a Palavra de Deus. São muçulmanos os meus amigos e eu, apesar de não o ser, compreendo-os, aceito-os como são e aprendo com eles.
Aprendi, ao longo destes anos em África, sobre a inutilidade da religião. Aprendi que nos agarramos à religião como uma tábua de salvação e continuamos perdidos, mesmo no interior das nossas igrejas, porque sem consciência que a tábua de salvação não é a religião, nem alguma igreja, mas Jesus. Nós que anunciamos Jesus insistimos com os homens para fazerem boas obras e esquecemo-nos que aquele que vence o mundo, ou que pode resistir ao pecado, é o que acredita em Jesus. Deixemos os homens receber Jesus primeiro e falemos das obras depois sempre conscientes que não seremos salvos pelo facto de as praticarmos...
retidos