Sento-me no muro baixo daquilo que parece ser um tanque com uma entrada virada a sul. Lá dentro alguns tapetes e, sentado num deles, um homem ainda novo, encostado ao baixo muro, vai falando abstraidamente para o interior do seu telemóvel. Deixou do lado de fora as sandálias, em sinal de respeito. Porque ali dentro da “mesquita” só se entra com humildade, isto é, descalço. Do outro lado do muro um jovem acaba de vestir uma camisa remendada. Diante dele a cabeça de uma máquina de costura, do tipo daquelas que encontrávamos na sala das nossas avós há alguns anos atrás. É um jovem alto, magro de linhas, de olhar vivo e embaraçado. Dos lábios finos desprende-se continuamente um sorriso tímido. Diz-nos que é do interior do país, perto da fronteira com o Gana. Confessa-me que não passou pela escola oficial mas que frequentou a escola corânica, a Madrassa, onde aprendeu o árabe. Explanamos o Evangelho, la bonne nouvelle, com doçura. Por vezes sinto que se perde no meu sotaque do francês. Umas vezes dá ares de compreender outras vezes mostra-se confuso. Quer ir para o paraíso, evidentemente, como todos os muçulmanos, e eu tento fazê-lo compreender que isso não depende das obras mas da graça de Deus.
Inesperadamente, inicia-se uma chuva sem mercê. Resistimos-lhe aproximando-nos o mais possível do tronco da mangueira. Junta-se a nós o chefe da oficina de automóveis onde nos encontramos. Chama-se Bari. É um homem magríssimo, baixo, de barba rala e de aspecto feliz. Veste uma espécie de bata azul, muito coçada, em cujos bolsos mantém as mãos, retirando-as a espaços para acompanhar o diálogo com os gestos. Veio da Guiné Conacry faz muito tempo, tanto que nem ele já se lembra bem. Introduz-se sorrateiramente no nosso diálogo e começa a falar de profetas e dos livros. Diz crer no Livro e ser ele um livro de Deus. À minha pergunta sobre o porquê da necessidade de Deus enviar outro profeta com um outro livro começa a divagar. Começa a falar das obras e da sua importância no processo da salvação. Ouço-o com atenção e aprendo. Em cada contacto que faço aprendo sempre algo mais. A chuva impiedosa persiste. Mais poderosa do que nós obriga-nos a passar para debaixo do alpendre duma casa em construção. Sentamos-nos nuns tijolos que ali se encontram, bem encostados à parede. O meu companheiro começa a dormitar enquanto continuamos o diálogo. De repente Bari vira-se para o jovem com o qual iniciámos a conversa e fala-lhe das qualidades de Jesus: Este profeta nunca pecou, fez grandes milagres, ressuscitou mortos, foi pregado numa cruz e depois ressuscitou. Voltamos aos Livros na próxima semana, incha Allah!
retidos