Um calor de lava escorre pelo bairro abaixo inundando tudo. Nem as sombras escapam à sua passagem. A minha camisa vai-se tornando num trapo molhado à medida que avanço neste labirinto. Construiriam-se as barracas como um puzzle enorme, acomodando-o ao desnível do morro. Destarte é difícil para nós darmos alguma vez com o mesmo lugar. Ocasionalmente cruzamos uma certa pessoa num determinado sitio e, então, lembramos-nos que já estivemos ali...
Subitamente sentimos vozes saídas de uma barraca mais abaixo. Assomamos à porta e dento do pequeno pátio um homem, sentado numa mesa, discursa virado para os seus amigos. É um sujeito rondando os quarenta anos e com perto de metro e oitenta de altura. Do rosto sem rugas descem-lhe grossas bátegas de suor que vai afastando com a palma da mão. Fuma desmesuradamente, coisa rara nestes bairros, enquanto dá a sua opinião acerca do casamento e da infidelidade conjugal. Pedimos permissão para entrar e logo nos trazem dois bancos minúsculos nos quais nos sentamos.
Confessa-nos que é viúvo e que deixou os seus quatro filhos no Burquina Fasso, porque com os filhos não se pode “fazer vida” em Abidjan. Os outros ouvem-no atentamente e eu também. Depois a conversa toma outro rumo e fala-se de religião. Ele tem uma honra enorme pela dele e eu nenhuma pela minha. Falamos de coisas simples e do modo mais fácil para entrar no paraíso e somos bloqueados nas obras. As obras são o calcanhar de Aquiles dos muçulmanos. Sem elas não se entra, de modo nenhum, no paraíso. Eu apiedo-me deles e mesmo de mim...deles porque sei que desse modo não entrarão, e de mim porque nem sempre sou capaz de ser totalmente convincente tentando mostrar aquilo em que acredito. A salvação pela graça é dificílima de se aceitar, por vezes mesmo pelos cristãos! Que Deus magnifico o nosso que nos aceitou sem nenhum sacrifício de nossa parte!!
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